A vida está a chegar. Em breve bater-me-á à porta e de braços abertos, assim espero eu, receber-me-á como nunca me recebeu. Um novo corpo nascerá e acompanhar-me-á durante os próximos tempos. Permitirá que eu renasça e descubra um novo eu. Um eu verdadeiro, livre, autêntico e meu.
Nascemos sem nos termos planeado ou idealizado. O nascer é
efetivamente o único acontecimento na nossa vida no qual não temos o mínimo
controlo ou decisão. Mas assim que nascemos, cabe-nos a nós reconstruir o nosso
nascimento e fazê-lo realmente nosso e único. Sou nova, combati na verdade
poucas batalhas exclusivamente minhas. Fui sortuda o suficiente para ter tido
um batalhão titânico comigo desde o início, que desbravou todos os caminhos por
onde tenho passado. Não escolhi o meu nascimento, mas, na realidade, sei que o
batalhão me escolheu a mim. Escolheu-me, protegeu-me e lutou por mim com todas
as suas forças.
Mas cresci. Fui crescendo e percebendo que a principal
batalha tinha de ser combatida por mim. Que o batalhão um dia iria,
eventualmente, perder forças. Forças essas que não se perdem. Transformaram-se
e ganham um novo hospedeiro. Hospedeiro este sedento de viver e lutar pelos
seus direitos e dos demais companheiros.
A independência e liberdade gritavam por mim e eu, como um
marinheiro enfeitiçado pelo canto das sereias, decidi lançar-me ao mar em busca
delas. E, assim, iniciei a minha própria luta: a do renascimento. A minha
primeira guerra, a minha primeira conquista. Vários foram os marinheiros que
haviam já embarcado há anos e já estavam em alto mar a enfrentar diversos
adamastores, na ânsia de conquistar as primeiras sereias. Segui atrás deles,
como um aprendiz grumete que observa a restante tripulação mais experiente. Não só
queria lutar, como queria também aprender. E aprendi imenso. Aprendi a ter
paciência, a lutar conscientemente e a planear todas as minhas
batalhas de forma organizada.
A primeira batalha desta guerra que é a vida independente
está ganha. A partir de outubro uma perna-metade virá ao meu encontro e juntas
aprenderemos a andar de novo.
Ao CVI, Centro de Vida Independente de Lisboa:
Obrigada aos marinheiros pioneiros que, por mares nunca
dantes navegados em Portugal, por perigos e guerras esforçados, mais do que
prometia a força humana, alcançaram aquilo que muitos até então achavam impossível:
o Modelo de Apoio à Vida Independente, aqui, na nossa terra lusitana. Obrigada
pelo esforço e dedicação. Por nunca terem desistido e por terem ultrapassado
todos os “nãos”. Ao lado de vocês sinto-me pequeníssima, mas no bom sentido.
Olho para vocês com muita admiração e atenção para que possa também seguir os
vossos passos e juntar a minha força à vossa. Vi-vos crescer desde o início. Obrigada por me
deixarem fazer um bocadinho de nada parte da vossa história.
Assim, peço a vossa ajuda na procura de 3 pernas-metade, ou
seja, 3 assistentes pessoais. Não é obrigatório formação ou experiência, embora
valorize-se.
Links úteis do CVI - Centro de Vida Independente:
O que é a Assistência Pessoal?
Página Facebook
Site
Ansiosa por nascer e vos conhecer,
Com amor e ansiedade (aos molhos),
Raquel Banha