SOU DEFICIENTE, E DEPOIS?
21:51
Deficiente, def, tecla 3. O que quiserem chamar. É a minha
realidade. Sou deficiente. Mas sabem que mais? As pessoas conseguem ser
preconceituosas com os próprios preconceitos. Ser-se deficiente não é uma ofensa, é um facto. O corpo humano não é
perfeito, tem falhas.
No Dicionário
Priberam da Língua Portuguesa, a palavra deficiente define-se como um adjetivo
e substantivo de dois géneros: «que ou quem apresenta deformação física ou
insuficiência de uma função física ou mental; que ou quem apresenta uma
deficiência.». E a verdade é esta: nasci com uma deformação num gene, uma
mutação. Sou uma mutante, how awesome is that?!
Na verdade, todos nós
somos deficientes. Não de carácter, mas biologicamente falando. Todos temos
genes ou células defeituosas. É tão comum hoje em dia encontrarmos pessoas com
óculos, ou com “pequenas” dislexias. Pessoas com tendência para escolioses,
pessoas com melhor ou pior coordenação. Indivíduos que envelhecem mais
rapidamente… Como disse, o nosso corpo não é perfeito.
A diferença entre a
normalidade e deficiência é pura e simplesmente estatística. Aliás, se
analisarem bem, tudo ao nosso redor é estatística. O ser-se “normal” é a moda,
é o número que se repete mais. Se toda a gente andasse de cadeira de rodas por
exemplo, como eu, o “normal” era ser-se deficiente. Aqui a única diferença são
os números, a quantidade de indivíduos com mutações genéticas graves que
ressaltam à nossa vista. Resumindo, é estar-se em minoria. Mas será a minoria
uma ofensa?
Gosto de olhar para a
deficiência como ser-se diferente. Ser-se bold, destacado. Num rebanho de ovelha
brancas, sou a preta.
Às vezes tenho medo
de dizer que tenho orgulho em ser deficiente. Pensarão vocês “como podes ter
orgulho em não conseguir andar? ou de não seres totalmente independente a
respirar?”. Não tenho o mínimo orgulho das deficiências físicas que possuo.
Tenho sim orgulho no que a deficiência e diferença me ensinaram. Se me dessem a
escolher entre ter nascido “normal” ou ter nascido deficiente, teria recusado a
primeira opção. Porquê? Simples, não seria a pessoa que sou hoje e não olharia
para o mundo da mesma forma como hoje em dia. Gostava evidentemente de um dia
ter direito a uma “cura”. Mas não algo que me apagasse as memórias da
deficiência. De tudo o que vivi e aprendi. Aprendi a ser sensível e humilde. A
ser humana. Aprendi a tolerar a dor e a angustia. Aprendi a viver com ansiedade
e com depressão. Aprendi a seguir em frente e remar contra a maré. Riu-me mais
do que choro. Sou uma gozona e sarcástica na verdade. A vida deu-me outros olhos,
outro sentido. Um 7º sentido. (visto que sou mulher, lol)
Gostava que as pessoas
pensassem mais na sua identidade e pessoa. Não se resumissem em ser ovelhas
brancas. Existem tantas cores... A necessidade de nos encaixarmos em algo maior
que nós é terrível. Desconstrói a nossa personalidade e individualidade. Falo
por experiência própria. Até que descobri que ser-se diferente tem as suas
vantagens. Obviamente que não me resumo à minha mutação genética. Aqui a
diferença é que tirei partido dessa diferença para não ter medo de me assumir,
como sou. De realçar outras capacidades minhas. De estar na tuna feminina da
minha faculdade mesmo com todas as minhas dificuldades. De escrever sobre o meu
percurso. De ter sido a deficiente que fez o maior flashmob português em
homenagem a uma banda… Ou até de usar roupas extravagantes quando me apetece.
Não há nada melhor na vida que sapatos brilhantes e chapéus.
As pessoas têm medo de
ser diferentes, de não se enquadrarem em padrões. Quando na verdade, não existe
uma única impressão digital igual. Não tenham medo de não serem iguais. Numa
palete de cores têm tantas por onde escolher. Criem a vossa mistura, a vossa
cor, o vosso ser.
Sejam diferentes,
sejam ridículos. Realcem as vossas imperfeições e façam delas vossas
companheiras de guerra e aliadas.
Se a vida fosse apenas
cor-de-rosa não teria piada nenhuma.
3 comentários
A madalena costuma dizer-me: "mãe, a vida Em amarelos e vermelhos (cores usadas para mau e muito mau comportamento nao tinha graça nenhum! Porque ja sabes... eu sou assim, diferente e nao consigo parar de mexer o corpo..." e é verdade raquel, a madalena tambem nao seria a mesma! Beijos e orgulho
ResponderEliminarPrima Inês Passos
Verdade! Não vale a pena fingirmos algo que não somos! :)
EliminarBeijinhos grandes prima**
Admiro-te muito, e gosto de ler o que escreves. beijinho
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