A PRIMEIRA VEZ SOZINHA NUM CONCERTO
21:43
12.set.18
Passado quase 1 ano desde que os 30STM
anunciaram que vinham a Portugal, o dia tinha chegado. Chegou e um sentimento misto de
frustração e excitação tomou conta de mim. Não sabia o que fazer. Ainda não
tinha comprado o bilhete e estive até à última hora à espera que um milagre ou
coisa do género acontecesse. Porque sim: queria ver a merda do concerto de
perto. Porque tinha esse direito, porque gostava deles. E só porque sim - era
esse o meu desejo.
Esperei, chateei quem tinha de
chatear, as horas foram passando e nada. A frase "vou ou não vou?"
invadiu a minha cabeça durante horas a fio. Mas a hora estava-se a aproximar e
tinha de decidir. Tinha tudo contra mim: não podia ir para o sítio que queria,
não tinha companhia, nada. Só tinha algo na frequência correta: estava viva e
tinha uma vontade. E assim foi, quis e fui viver. As
portas abriam às 18h30 e o meu bilhete foi comprado exatamente às 17:58,
online. Não se riam, mas a verdade é que
acabei por chegar atrasada. Isto é, a banda de abertura iniciava às 20h e eu
cheguei perto das 20h15/20h20.
Cadeira carregada: check.
Ventilador em ordem: check. Telemóvel com bateria: também check. Todas as
precauções foram tomadas antes de me despedir dos meus pais para ir para aquele
que seria o meu primeiro concerto sozinha. Deixei os meus 94% de incapacidade
de parte por 2 horas e lá fui eu, com um sentimento de falsa e breve
independência.
A primeira hora foi puro
sofrimento. A banda de abertura não era má, pelo contrário. Mas, eu, naquela
fase do mês complicada de uma rapariga, naturalmente depressiva, sozinha num
concerto para o qual tinha lutado durante um ano para ter um lugar que não
consegui ter, estava complicado... Sentia que tinha perdido uma batalha, mais
uma. Uma lagrimita ou outra e foi o tempo da banda de abertura terminar e os 30STM
subirem ao palco. De repente a minha frustração e angústia
começava a desvanecer-se e a sensação de liberdade e adrenalina invadia-me a
alma. O concerto foi repleto de clássicos e músicas novas, preenchendo cada
vazio do meu coração. A nostalgia de uma rebelde adolescência e da minha fase emo-punk-indignada-revoltada-com-tudo
percorria toda a minha pessoa. Num segundo estava eu, transformada
numa outra pessoa qualquer (ou seria apenas, eu própria?), a cantar com todo o
meu fraco folgo e a gesticular como se tivesse toda a força e gana do mundo.
Cantei, dancei como nunca e gritei. Estava sozinha, a ser aquilo que sentia e
queria, ao som de uma das bandas da minha vida. Comecei a aprender a saborear
que a solidão não é necessariamente sinónimo de aborrecimento, tédio e
tristeza. Solidão pode muito bem se equivaler a liberdade e autenticidade. Não
tinha de me comportar como a sociedade se tinha habituado a ver-me, não tinha
de provar nada a ninguém. Não tinha de ter “cuidado”, “maneiras”, “regras”. Era
só eu e a música.
Realço os melhores momentos, para
mim, daquela que foi das melhores noites da minha vida: o início. Dizem que o
primeiro impacto diz muito sobre alguém ou um momento e realmente foi o que
aconteceu. Começaram logo a cantar um clássico, com a King and Queens. O palco
todo iluminado com tons laranjas, a plateia ao rubro, as colunas a rasgarem a
atmosfera com decibéis estrondosos. De alguma maneira, encaixava-se na
perfeição no meu imaginário, naquilo com que tinha sonhado e fantasiado. Depois,
a This Is War. Uma das minhas músicas favoritas deles. Tão forte, tão intensa,
tão real. Uma das melhores cenas dos concertos dos Mars é que 90% das musicas
deles têm crowd singing e ver uma multidão inteira a acompanhar uma banda a
cantar é das melhores sensações do mundo, mesmo. Senti-me tão viva, tão
presente. De seguida, o momento alto da minha
noite: ouvir, em versão original, a canção The Kill. Não imaginam o quanto eu
gritei e esperneei. Estava possuída. Quase 10 anos depois finalmente ouvira uma
das músicas que mais marcou a minha adolescência. Lembro-me, como se fosse
hoje, de, com cerca de 12, 13, 14 anos, enfiar-me na casa de banho da minha
escola e chorar a fazer playback em frente ao espelho (só para mim) por horas a
fio de músicas como a Ignorance dos Paramore, Creep dos Radiohead, Given Up dos
Linkin Park e claro está, a The Kill dos 30 Seconds To Mars. Sublinho umas passagens da canção,
que me marcaram muito e ainda o fazem atualmente:
“What if i
wanted to break?
Laugh it all
off in your face
What would
you do?
What if i
fell to the floor?
Couldn't take this anymore
What would
you do, do, do?
(…)
Come break
me down
Bury me,
bury me
I am
finished with you
Look in my
eyes
You're killing me, killing me
(…)
I tried to be someone else
But nothing seemed to change, i know now
This is who i really am inside
Finally found myself
Fighting for a chance, i know now
This is who i really am”
Foi, portanto, um reviver de uma fase
determinante da minha vida. E, o facto de não ter tido ninguém para partilhar
esse momento, confirmou ainda mais que há coisas que são para ser sentidas
sozinhas e apreciadas individualmente. E, estava tão feliz por, de alguma
forma, ter conseguido exteriorizar toda uma frustração e angústia antiga cá
para fora. Foi quase como que um fecho de um ciclo e o início de outro. Estava
orgulhosa de mim mesma. Obviamente que o concerto foi
repleto de momentos únicos e marcantes. Desde dezenas de balões gigantes coloridos
espalhados pela multidão da plateia, um desenho de luz fantástico, uma presença
de palco extraordinária do Jared Leto (bem como todas as interações com o
público), o momento em que do nada aparece o Diogo Piçarra para acabar de cantar
a Rescue Me. Foi também filmado e encenado um excerto de uma música para um videoclip
deles… E claro, a última música para acabar em grande, com o Closer To The Edge,
que pôs toda a gente ao rubro e a saltar (literalmente). Dezenas de fãs no
palco, confetis por todo o lado. Suor, lágrimas, dentes sorridentes. No final, senti-me outra pessoa.
Senti-me mais eu. Tinha feito algo que eu queria mesmo, sozinha. Senti-me
independente e que naquele momento tinha o mundo todo nas minhas mãos e podia
fazer o que quisesse, completamente. Podia conquistar tudo o que quisesse
depois daquelas 2 horas de extrema adrenalina e euforia. Só me deu ainda mais confirmação e
confiança para o que eu quero que se siga na minha vida: ir a mais concertos,
sozinha ou acompanhada (I don’t fucking care) e trabalhar na indústria musical.
Porque, meu deus, a música é a minha vida e a minha vida é a música.
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